Prof. Sandra Silveira
Ex-Prefeita de Esteio RS, integrante do MTPE (Movimento Trabalhista pela Educação)
Das muitas leituras feitas ao longo dos últimos tempos, uma certeza pude ter, somos um país de discursos vazios, aliás, belos e convincentes discursos vazios, reformas que não saem do papel, leis que não são regulamentadas, mas quando sancionadas causam muito barulho e divulgação; desmandos e negociatas que, quando denunciados não geram punição e sim discursos inflamados. Volto ao início, para não perder o foco, vou explicar o porquê destas observações. Li matérias variadas, sobre segurança, política, economia e, principalmente educação, já que tal tema tem sido uma constante na minha trajetória de vida , uma leitura em especial absorveu meu tempo e minha atenção, ” A nova Política do Brasil – A realidade Nacional em 1933 – Retrospectiva das realizações do governo de 1934 ” Getúlio Vargas.
Deparei-me com discursos e análises do governo de 1933 a 1934 e é surpreendente constatar como certos problemas nacionais perduram desde então, numa constância impressionante.
Uma passagem em especial que fora lida durante a constituição de 1933: “… Em resumo, o Império encerrou sua atividade deixando insolúveis os dois maiores problemas nacionais: o da organização do trabalho livre e ao da educação.”
Tenho certeza que não precisaria descrever todo contexto do livro para entender a passagem que citei, esta foi apenas para ilustrar quão antigos são nossos problemas e chegamos sempre a mesma conclusão para explicar tanto o fracasso, quanto a busca de solução, que é por meio da educação.
Vivemos momentos difíceis na sociedade, falta de empatia, humanidade, perda de valores essenciais ao ser humano, uma juventude frágil e suscetível, sem limites sociais; seria sonhar demais que pudéssemos fazer valer os discursos mais inflamados e conhecidos? ” A Educação vai resolver o problema do País”.
Educar é uma forma de saneamento, não é somente instruir, mas desenvolver a moralidade, o caráter, preparar para a vida, para a cidadania plena.
A verdade é dura de ser dita, no Brasil, a educação nunca foi prioridade, o analfabetismo é ainda um estigma que nos envergonha, assim como o salário dos professores.
Precisamos de escolas de qualidade, de profissionais remunerados dignamente para exercer seu trabalho, precisamos democratizar o acesso e garantir a permanência dos estudantes, garantir a aplicação correta dos recursos na educação .
Às vezes parece que atingimos o ponto onde os pessimistas se habituaram a encontrar dificuldades de toda a sorte, mas é preciso sonhar, afinal o que é a utopia, senão algo que tem visibilidade a distância?
Ela está no horizonte,
me aproximo dois passos
E ela se afasta dois passos
Por mais que eu caminhe, jamais a alcançarei.
Para que serve então a utopia?
Serve para isso, para fazer caminhar."
Eduardo Galeano